O trabalho do enfermeiro no Programa de Saúde da Família – PSF: autonomia e reconstrução da identidade profissional
Resumo
A enfermagem se constituiu historicamente, desde os primórdios da humanidade, estando relacionada ao cuidado aos doentes. Porém, foi no século XIX, com Florence Nightingale, que adquiriu características de profissão com bases científicas de conhecimento. Florence incorporou à profissão os conceitos de abnegação, dedicação, perfeição moral, assexualidade e uma rígida disciplina inspirada nos moldes militares. Esse processo foi paralelo ao surgimento dos hospitais como espaços de cura e estudos das doenças, o que levou à subordinação da enfermagem à medicina, como uma continuidade desta, obstruindo o fato de terem tido origens históricas distintas. No Brasil, a Reforma Sanitária que se iniciou na década de setenta, abriu espaço para a atuação do enfermeiro na saúde coletiva, onde, amparado pelo Ministério da Saúde, esse profissional tem espaços para desenvolver autonomia, desvinculando-se do trabalho centrado no médico. Partindo deste histórico, da legislação pertinente e do debate teórico em torno do conceito de autonomia, este trabalho pretende averiguar se esta ocorre na prática. Este cotejamento foi feito a partir de um estudo de caso com as quatro enfermeiras do Programa de Saúde da Família de uma Unidade de Saúde da Família em Londrina, Paraná, que participaram da pesquisa preenchendo um instrumento onde descreveram suas atividades cotidianas em um dia de trabalho, durante quinze dias. Além disso, houve também observação direta da autora dessa pesquisa, que realizou internato, pelo período de três meses, na citada unidade. Ao final, comparamos os dados encontrados com as atribuições de um enfermeiro de PSF, definidas pelo Ministério da Saúde. Concluímos que as profissionais pesquisadas têm ocupado o espaço que lhes é legalmente garantido. Comparamos esses achados com a bibliografia existente sobre o assunto, pra observar se seguem uma tendência ou são casos isolados. Embora os trabalhos sobre essa temática não sejam freqüentes, os dados encontrados sugerem que há um movimento em curso, por parte dos enfermeiros do programa de Saúde da Família, em garantir seus espaços de autonomia e assim reconstruir sua identidade profissional.